Friday, January 14

Texto inesquecível

Tive um livro de português que contava uma estória sobre o bicho papão que me lembro até hoje. Duas semanas atrás, o encontrei e arranquei a página ("às vezes é certo fazer a coisa errada" porque eu tinha que guardar uma lembrança ainda palpável como esta). A tosca imagem perdura na minha cabeça até hoje... Vai entender! Segue.



Bicho papão da minha imaginação



Bicho Papão a gente inventa.

O meu foi inventado por uma cozinheira chamada Guiomar. Guiomar vivia contando histórias terríveis, de botar cabelo em pé. Eu tenho cabelo crespo, até hoje, por causa da Guiomar. Ela me contou cada uma, arrepiava tanto, que arrepiada fiquei!

Dizem que a gente não deve contar histórias de meter medo pra crianças, por isso eu não vou contar o que Guiomar contava.

Eu sei que, de tanto ouvir a cozinheira, criei meu Bicho Papão particular. Ele era assim: olhos cor de fogo, pés virados para trás, soltava muita fumaça pelas ventas e era mula-sem-cabeça, além de pular num ´pe só e usar touca vermelha, fumar cachimbo e, de vez em quando, parecer com minha professora de matemática. Tinha vezes que ele era ótimo, nem existia! Mas bastava ser noite de tempestade, já vinha o Bicho Papão vestido de lençol branco, casaco de padre, chapéu de freira, blusa de crochê de plumas. Era realmente ma coisa impossível, não existia, era meu medo.

OS BICHOS QUE TIVE, Sylvia Orthof, Rio de janeiro, Ed. Salamandra, 1983, p. 28.

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